Essa semana vi
um filme na Amazon , uma dessas comédias românticas, chamado de “What’s your number?”,
traduzindo Qual é seu número. A película se baseia numa jovem que lê uma
pesquisa onde as mulheres que são realizadas na sua vida amorosa, isto é,
casadas e com filhos, tiveram em média 10 parceiros sexuais na vida, e mulheres
que passam de 20 parceiros sexuais tem baixa probabilidade de se casar. Por
acreditar nesse artigo, ela entra numa paranoia de que só tinha uma chance de
ser feliz em sua vida amorosa já que começa a contar com quantas pessoas fez
sexo e chega ao número 19. Isso me trouxe questionamentos de como a sociedade sobrecarrega
a mulher de preconceitos com ela mesma.
Segundo os
ensinamentos bíblicos, como muitos sabem, a mulher e o homem só devem casar
virgens. Mas essa regra sempre teve maior peso sobre as mulheres. Por muitos
anos, a mulher só podia sair de casa para se casar. E se por acaso, fizesse
sexo com alguém e ficasse grávida muitas vezes era expulsa de casa. Não
importava se um homem, com belos olhos e boa lábia a tivesse iludido e ela
tivesse acreditado que eram boas suas intenções. Ela era julgada como culpada,
uma traidora de sua família e dos bons costumes, uma pessoa sem honra. Pior disso
tudo, nós mulheres realmente nos sentíamos assim, desertora da honra, sem
dignidade, autoestima zero.
Como já
escrevi em outros textos, fui criada na igreja e passei por esse julgo também, não
porque minha mãe me acusava, mas sem orientação e devido aos traumas da infância
e adolescência, eu por muito tempo me senti culpada após perder a virgindade fora
do casamento. Eu com 21 anos, acreditei que nós éramos namorados, mas na cabeça
dele não, ele só queria ter o prazer dele, era um mentiroso, como muitos outros.
Depois do ocorrido, ele me disse que a gente não tinha muita coisa em comum, e
simplesmente não me procurou mais. Eu realmente pensava que tinha feito algo
errado, porque quebrei minha promessa de casar virgem. Punia-me por ter ficado
com uma pessoa que não conhecia de fato, cai no conto do vigário. Eu pensava: permiti
que esse homem tirasse proveito de mim, fui enganada e me julgava por fazer
algo natural.
Eu meio que
entrei num loop. Estava com a autoestima muito baixa. Passei várias semanas e
meses indo à igreja, pedindo perdão a Deus, como se aquilo que eu estava passando
fosse uma punição pelas minhas más ações. Eu fiquei nesse loop por muito tempo.
Eu acreditava que as pessoas tinham boas intenções. E antes de conhecer meu ex
marido, no qual vivi por 7 anos, conheci alguns homens que acreditava terem
boas intenções mas no final só queriam fazer sexo comigo. Eu pensava: permiti
que esse homem tirasse proveito de mim, fui enganada mais uma vez e me julgava
por fazer algo natural. Claro que não foram todos que me enganaram, teve alguns
que eu senti vontade de fazer e eu que fui embora. Mas eu me sentia tão culpada
que eu não me permitia desfrutar daquele momento. Sempre travada. Como se
estivesse fazendo algo errado.
Aí eu falei,
nunca mais vou deixar que ninguém encoste em mim até ter a certeza de que essa
pessoa realmente tem boas intenções comigo. Aí eu disse, vou sossegar, não vou
mais procurar, cheia de culpas. Eu estava com minha autoestima muito baixa,
depois desses desencontros amorosos da vida. Nesse momento conheci meu ex. Ao invés
de criar o processo de cura de tudo que me afetara emocionalmente, entrei de
cabeça num relacionamento tóxico. Abri meu coração pois ele queria realmente
algo sério. No meu pensamento, agora não vou mais ficar de mão em mão, pois sou
uma mulher direita.
Nessa busca de
ser uma mulher “direita”, mais uma vez não me atentei aos sinais, e fui morar
com Sergio, uma relação que durou sete anos. Mas como eu disse não tinha nenhuma
orientação, estava aprendendo as coisas da vida na marra. Como minha mãe, acreditava
em qualquer pessoa que demonstrasse afeto por mim e não me atentava aos sinais.
Depois me culpava e era meu próprio carrasco. No início, eu saia com os amigos
dele, a gente conversava sobre planos para o futuro, construir uma casa, ter um
carro melhor, sair da zona de risco que estávamos morando, etc. Ele bebia bem,
eu não me importava, estávamos juntos e nos divertindo. Mas com o passar do
tempo, ele começou a beber mais, até o dia que um tio dele faleceu e ele bebeu
tanto, mas tanto, e em um momento de fúria pegou uma pedra e quebrou o
parabrisa do caminhão dele. Nesse momento eu vi que ele tinha um sério problema
com bebida.
Comecei a refletir sobre a minha vida com ele, meu destino. Nós conversamos e eu dizia a ele, eu gosto de você
mas dessa maneira que você está ou se comportou não vou estar com você, vou
embora. Vou te dar mais uma chance. Nesse período acabei engravidando. A
gravidez não se desenvolveu, meu bebê não tinha massa cefálica. Assim optei por
interromper a gravidez pois quis poupar sofrimento do meu bebê e meu. Nesses
casos, a justiça permite que façamos o procedimento. Mais um vez ele bebeu, eu
sabia que ele estava triste também. Aí ele começou a beber cada vez mais. Por
diversas noites, eu ficava sozinha em casa, esperando ele voltar. Voltava cheio
de cachaça e fedorento. Eu achava que era o luto. Com o tempo percebi que não era só isso.
Um dia, eu
estava no domingo limpando a casa, e tinha passado um produto no sofá para fazer
a limpeza, ele chegou da rua todo fedorento a cachaça e sentou no sofá. Pedi
para ele ir para o quarto para que pudesse terminar o que eu comecei. Ele saiu
do sofá, veio para cima de mim e me imprensou contra a máquina de lavar e a
janela, o vidro caiu em cima de mim, tempo de me machucar feio, tive alguns
cortes, não fui embora, pensava que como esposa era minha obrigação ajudá-lo a
sair do vício da bebida. Depois desse episódio eu procurei uma terapia e
comecei a refletir sobre todos os acontecimentos. Sentia vergonha, uma pessoa
estudada, independente economicamente, viu os problemas que sua mãe enfrentou e
entrou nessa relação tóxica. Parecia que estava cometendo os mesmos erros de minha mãe.
Aí começou meu
tormento de não querer que ele bebesse mais. Ele dizia que ia parar, demorava
duas semanas e lá estava ele parando no bar, voltando altas horas da noite ou
no dia seguinte. Algumas vezes que eu ia trabalhar e ele ainda não tinha chegado
em casa. Depois conversando com pessoas próximas, que o conheciam antes de mim, descobri que ele sempre foi assim, e já tinha agredido a ex mulher devido a bebida. Ele não
me agredia fisicamente, mas me pressionava, falava que a culpa dele beber era minha porque eu fica reclamando na cabeça dele. Eu sabia que não era. Dizia que ele tinha família e eu não porque
eu me abri com ele sobre o que aconteceu comigo e jogava isso na minha cara.
Foram várias
brigas e discursões, até que em plena pandemia ele surtou, me empurrou, jogou a
TV na parede, a caixinha de documentos que eu estava arrumando, simplesmente porque
eu reclamei que em plena pandemia, ele estava bebendo podendo trazer doença
para dentro de casa. Eu tinha ligado para saber onde ele estava, pois cheguei cansada
do trabalho, a casa toda suja, com raiva desliguei o telefone na cara dele. Ele veio da onde estava para me agredir. Essa foi a gota d’agua. Saí com meu braço roxo. E ele grita aos quatro ventos
que não fez nada para eu o abandonar dessa maneira. A mãe dele chegou a dizer que eu abandonei o lar para meu advogado.
Hoje estou
reconstruindo minha vida, esse julgo que não sou uma mulher direita não carrego
mais, mas foi muitos anos de terapia até conseguir sair de um relacionamento
tóxico e parar de me punir por algo que eu não sou e nunca fui. Talvez seja por
isso que eu fiquei tanto tempo num relacionamento ruim. Não sei se vou casar
algum dia, tive várias experiências ruins de relacionamento, tanto em relação
aos meus pais quanto aos meus próprios. Deixe isso para os fofoqueiros de plantão. Agora eu procuro fazer as coisas querendo sempre o melhor para mim, sem importar com opinião alheia.
O primeiro passo
já tomei: foi me aceitar e me libertar desses preconceitos e acreditar que sim eu mereço sempre
o melhor. Estou numa jornada de reflexão, autoconhecimento e construção da minha
autoestima. Não importa se estou casada, solteira, ou se quero fazer sexo com
alguém que conheci numa boate. Sou dona da minha vida e o que eu faço só diz
respeito a mim.
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